Lobo à Colina de São Roque
Les Photo
Inquéritos de satisfação
Este relativismo doido
Rede presa em casa
Nas casas
Marchar contra
Entrar no bairro, na colina
Fui.
Lobo gélido insatisfeito
De humores fora da toca
Não vos digo nunca onde
Como nunca sei
Onde você mora, ou sei
Explorar o que há para explorar
Como está Lisboa, como está?
Como está Lisboa hoje, como está
A subir e a descer subir e descer Bruschetas
O Forcado Peixe laranja
É a Rua da Rosa. a Mamie Rosa, chapéus
Galo de Barcelos
Cozinha trendy é portuguesa é trendy
É portuguesa Sim
E o Brás Grogs
Lobo à Colina de São Roque.
Dança da Comida
Ao fundo do fundo do fundo
O Mini-preço Um
É gente a mais, já almoçaram Fidalgo Faia vazio
E o faro
Pirata bar um preto homem
Martelaria pesada
Tá-tum-tá-tá-tum-tá-tá-tum
Ai
Precisava de saber mesmo como te escondias
Atrás desta merda na tua toca
Tua Casa casa sempre casa
Sempre casa sempre
Em casa
Rá-tá-tá tá-tá tá-tá-. tá-tá-tá-tá-…
Travessa da Queimada
Bairro Alto massa
Rua da Atalaia tudo
Em película quando alcanço as Catacumbas
Memórias de noite
Tu, eu, Alcateias consoante décadas
Lá fora acasalados num carro
Lá fora, disse, sou
Lobo, nunca fui apanhado.
Nas escadas de um prédio mandou vir
Com o barulho fui daqui até à Alameda.
Mandei-te o convite, está lá no facebook…
Sopro o sopro ouvia isto aos dez anos
Abro a boca o focinho ao cheiro oleava
Faz séculos
Devorava isto tudo.
Às barcas, às barcas! Pelo mar e pelo mar…
Ás malvas! Ás malvas!
Estimados
É como é como comer papel
Souvenir tamanho não é memória
Mera é mera a constatação
Voilá, era um convite
Vou Shop-shop mini-mercado
Travessa da Boa Hora, antes disso
Uma africana só para dizer que aqui estou sempre
No antigamente
Século XVII, XVIII, sobretudo
E o terramoto? O fartote?
Antes, quando antes era tudo bilingue, bom
Jamais esquecerei os estridentes risos
Dos escravos iguais
Todos iguais na catástrofe eu é que nunca
Mas nunca fiz parte de manadas, nem de exércitos
Nem de futebóis, sou lobo, não faço espécie
Não sou espécie da espécie
Se é que me faço entender
Dessa espécie, bom, não vos digo mais nada…
Bem, sei, só me querem porque eu vos dou pistas
Só eu vos dou pistas as pitas
Só eu
Simulo o passado, conto-vos que conto,
Fui vou e já fui, e já vou…
Pistas, pistas, pistas gargalhadas pistas gargalhadas,
Bem gargalhadas
Hei! Mas não me riu nunca me riu nada disto tem
graça nenhuma
Ou tem se tem, por outro lado
Posso contar do passado…
Ou não, não, não, não conto do passado como
Não conto o passado como
Não conto com o passado
Ouviram?
Uivo a isso Vão bardamerda,
Uivo a isso
A todos bardamerda a todos, uivo a isso
Só mesmo quando estou disposto
Bem disposto quando dou uivo
Por ela uivo uivo ó bardamerda
Soubessem vós como tenho de me centrar no alimento
Isso que odeiam, isso, e odeiam-me!
Isso, odeiem-me
Sou lobo não sou nenhum congregador de almas
Soubessem vós como estou como vou
Toda a concentração ao máximo é sempre o mínimo
Um mínimo olímpico, soubessem vós
O que são trezentos mil anos Por exemplo…
Vá-lá Lisboa ta-ra-ra-ra-ra-ra-rã…
Rá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá….
Edda em verso perdiz Ragnarok pardalado
Lobas à colina! venham
Bom cu trans-oriental transexa eu miro é o tempo
Nah!… Acreditaram, era?
Nah, cuba exótica, cheirei-lhe Ouvi-a mais tarde….
Três horas depois….Já estava longe…
à beira do cais
Ouvi tudo… Os sapatos a serem
descalçados ela a deitar-se no balcão
O bar às escuras até vos digo as horas cinco da tarde
Não acreditam? Querem cheirar?
Faro o faro
Fixo o fixo
Vou o vou ido o ido
Sou todo ido e estou
Estou o estou
Fenrir e príncipe nas margens do Volga
Até predominei em Sevilha Austrália a pé
Vossos céus coitados, não têm disso
Vossos infernos, pior, estão cheios de água
Não atravessam nada se não atravessam
Nem pelo inferno…
Mas vamos lá vamos lá:
Cuba à vista! Num bar!
Uivo a isso Opá
The Pint Estation
Espera aí na varanda
A salsa, canta a saliva,
Sientes que te quiero más con mi…
Lalalala Sou um Shazam!
Disseram-me isso, sou um Shazam!
Não sei o que quer dizer mas aceito
Desafio aceite Voilá e já o era Atraio
E mais, mais, mais souvenirs mini-mercado
Do paquistão ou do Nepal je m’en fous
Tapa bucho tapas y pinchos Estrella Damn, diz lá,
Estrella Damn
Travessa de São Pedro Cuidado
O ponto seguinte do percurso é cansado:
Tacão Grande
Mil Novecentos e Noventas Entas
A Catarina diz que falávamos muito sobre cinema
Nós dois nos noventas entas
Uivo a isso!
Mas é andar….
Parafernália a parafernália
Parabólica branca medonha de alta enorme cobre
Todo o MC da esquina
Como se ninguém soubesse
Como as ruas são curtas as casas contíguas mas aquilo enorme
A anunciar um fim de um bairro, mesmo que
hipotético É o fim é o fim eu já vi tantos fins
Só esta colina de São Roque sempre a começar
Sempre a acabar sempre a começar sempre
Vá das ruas marcadas Memórias…
A parabólica diz Contera Ai a Alfaia Comi lá,
Uivo a isso mas
Ai ai ai Tasca Tequilla Bar Mojito Mezcalina
Conchonchada e enchilada! Bom, não percebo a
letra… Pancho Collins? Sim. Et Sim: The Corner
Irish Pub, bom, agora leio melhor: Sex On The
Beach, Irish Car Bom The Westies, já agora…
Whitey Bulger, já agora Steve Coonan, pois, South
Boston, ai como eu sou Bela colina
Azúlea cinza e perigosa
Lá percorri E para sul: Rua do Norte Hostel
marisqueira aché Cohiba Alface Hall Cobalto
Corgo Alto Coturno? Travessa de Esperança
Ristorante italiano Adega Machado Fado fado fado
Bad bones tatoos Baco Alto. Baco Alto?
Ouvir melhor:
Cê viu a mesma casa? Já, já-já… São Já
Está O Farta Brutos, sim, o Farta Brutos
Isto em tempo de farta Brutus é monta
Querem o quê?
Tempos não são tempo
Não entendem?
Não explico
Olhem o Leitão & Irmão Wine Lover, isso!
Está bem, está…
Isso, Severa Fado, isso!
Isso sim, Severa Fado Severa a escrita encarnado
Vende a tempo antigo
O maço de Marlboro.
Não sigo, nem deixo de seguir
O vazio & Trendy Bliss Lisbon
Apartments Metállica opaca ó
Pá tanto faz aqui como em Pasteur
Assim como assim
Não é nada é nada
Afinal
O Cantinho das Gáveas
Nesse
Estádio já não entro
Onde havia amendoins antigamente
Onde fumavas
O Mike e o Armando anarca
Tinha estado com o Luiz Pacheco e toda a
Gente que não conheci
Lá não estava mas estava
Sim, falo de ti
E a jukebox ai ai ai a jukebox agora
Ouvem mais a jukebox do que quando a jukebox existia fazem bem
Usar do instinto
Da sobrevivência não conhecem a forma
As formas como Lisboa é manada em texturas das suas peles
Não conhecem nada não têm culpa vão conhecendo, é isso
Clichés noites perdidas a mil paus granadas.
Não? Meu amigo: 1913, vai pó caralho, ok?
Sou Lobo, não um amendoí temporal
Ou se quiseres palhaços, um amendoim em temporal: tu!
Porquê? Comia-te em cerveja.
Cuspia-te até a beber uma Cristal ó contingência
Santa Contingência
Vem-me a mim
Via-me a mim mas eu não estava
Então como então agora presente sempre presente
Acendo o lume ainda me fogem…
Ofendem
Não estão a ver a minha casa nem as suas
A verdadeira face, como se diz, sou lobo, não contautor de anedotas – ainda por cima as vossas.
Antes diria, morram, morram todos
Kebabs
Ai ai, uivo a isso!
Olhem bem para o
exemplo da Taberna Minhota
Bitoque costeleta de novilho
Ameijoas à Bolhão Pato
Falafel durum vegetarian pita kebab
Pastel de bacalhau o dobro do tamanho
e a Ginjinha a euro e meio.
Publicado em Estrada dos Prazeres, Letras Paralelas, 2017.
Pode adquiri-lo aqui.